quarta-feira, 9 de outubro de 2013

um fim anterior

Como seria o mundo em que eu não existisse?
Quem ocuparia esta casa? Estaria ela vazia?
Onde estariam as pessoas que conheço? Como seria a vida delas afectada pela minha ausência? Que caminhos seguiriam? Seriam mais felizes? Certamente algumas teriam essa hipótese, que não tiveram.
Seria este um mundo melhor sem mim? Será que decidiu o destino rir-se permitindo a minha existência?

Viver
Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada? 
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?  
Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?  
O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa? 
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança? 
Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'  

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