domingo, 21 de fevereiro de 2016

Vai

Chegaste. Afastado. Como sempre. 
Hábito, rotina, hoje já não nos dirigimos um ao outro. Não sei em que momento nos perdemos, ou se alguma vez nos tínhamos encontrado. Fingi uma indiferença que não sinto, na esperança de ela nascer em mim, e eu não procurar mais a tua presença ou a tua aproximação. 
Cansei de dormir só, gelada, numa cama demasiado grande para um só corpo. Na noite fria, que me atacava já a garganta, decidi deixa-te ir. Procurei outro corpo, quente, que me fervesse o sangue. Que me tocasse. Procurei outros beijos, que loucos me enlouquecessem. Procurei outros braços onde me aninhar para dormir, por esta noite, que já longa vai. 

Ficaste adormecido na memória, enquanto eu continuava acordada.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Se eu pudesse...

Pudesse eu.
Pudesse eu pôr um ponto final nas noites mal dormidas. Nos sonhos que me atacam entre viagens de autocarro. No silêncio que me acorda na noite escura. Nos sons que me sobressaltam e me incomodam. No adiar da noite, e no adiar do dia,
Pudesse eu sentir o aconchego do cobertor e ficar em paz. Enrolar-me sozinha nos lençóis lavados, fechar os olhos e dormir. Dormir sem sonhos, e despertar enérgica. Passar o dia acordada.
Pudesse eu dizer que estou segura. Que o mundo é feito de coisas boas. Que ninguém existe que me faça mal. Que não há monstros na escuridão, que não há sombras esquisitas que me perseguem.
Pudesse eu dizer adeus ao passado e nascer de novo, noutro sitio. Quem sabe não existiriam tantos medos.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Fugir

Fugia contigo, se me quisesses. Se esse teu sorriso fosse por me ver. Se sonhasses comigo, quando me apareces em sonhos sem te pedir.
Fugia contigo, de olhos fechados, desde que me segurasses pela mão. Mesmo que o caminho fosse traiçoeiro, confiava na tua orientação.
Fugia contigo, do resto do mundo.
Fugia até de mim para ficar em ti.

Em vez disso tento só fugir de ti.