sábado, 25 de abril de 2015

Beijos

Enrolava-me nos teus beijos, e no calor que os teus lábios traçavam no meu pescoço. Parava-te quando subias e procuravas os meus, mas não desistias de me tentar quebrar e parecias ficar mais persistente quando me ouvias escapar um pequeno gemido rebelde. 
Imaginava-me deixar-te conseguir esse feito de me roubar um beijo só uma vez, mas temia perder-me num caminho por onde não saberia seguir, nem voltar atrás.
Eu segurava as tuas mãos longe do meu corpo, e tu não as forçavas na minha direcção. Estarias tu fazendo o jogo da paciência, sentido a minha resistência a cair, pronto a qualquer oportunidade para revirar o jogo a teu favor.
O meu coração batia como louco, e os meus olhos fechavam-se ao compasso dos teus beijos, e eu via o teu sorriso maroto crescer entre as investidas. 
O fogo ardia dentro de nós, e o mundo parecia ter parado no suspense de quem iria ganhar a batalha.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Preguiça

O café amarga, mas já não está quente, e é fácil segura-lo entre as mãos.
As nuvens ao longe anunciam chuva, embora o dia tenha nascido com sol.
A cidade já mexe, porque o sol já vai alto. Mas por aqui, a preguiça instala-se e os olhos ainda não abrem na totalidade. O coração parece bater mais lentamente, e o sangue não quer fluir pelo corpo com a energia habitual. Há dormência por todo o lado aqui.
Desvia os olhos do bulir da cidade, e espreita para a cama que a espera tentadoramente. E os contras são tantos, quando a favor está apenas a vontade. O melhor é fugir da tentação, e sentar na secretária de costas para ela.
O toque do relógio desperta um pouco daquele sono encantado, mas a culpa está estampada nos olhos, por se deixar arrastar naquele impasse entre o fazer e não fazer.
O corpo não responde mesmo assim.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O relógio

Toque. Baque surdo. O silêncio da noite chegou para ficar. Tirando o som irritante do relógio que não pára de tocar. E aquela luz entre os buracos da persiana que não deixam a escuridão entrar. E o som distante de cães que ladram ao luar.
Irritante.
Como o tempo passa sem que o sono chegue. Como a mente vagueia entre mares de pensamentos desconectados antigamente.
É do sono, que chegam os pesadelos, Que combatemos todas as noites em duelos.
E fica e fica, e bate e bate, e toca sem que passe.

Era uma vez,
a princesa salva pelo príncipe,
e os heróis em aventuras sem fim,
e os romances apertados,
e as tragédias dramáticas de mortes ensanguentadas,
com final feliz.

E já não há sono que não venha com histórias, nem sono que venha entre as memórias.
E a noite passa até clarear, e chega o sono quando é hora de trabalhar. E fica-se mais um pouco, porque quem não dorme é louco. E mais uma noite está para chegar, sem príncipes ou heróis.

E fica e fica, e bate e bate...


Lua

Ser marioneta. Puxada por fios, incolores, do céu caídos sobre o abismo, quem sabe num mundo de papelão. Ser feita de nada, e misturar-me com o ar que paira, naquela fresta de luz à janela. 
Ser verão e inverno, nas mãos de quem não sei, nem de quem quero saber. Deixar-me ir, por entre a maré de caminhos que levam a lado nenhum.  E nem por um momento pensar, qual o futuro, o presente ou o passado. E não tirar os olhos da fresta da janela, que não vejo, nem quero ver. E ficar de cabeça erguida, ou caída sobre os ombros, inanimada e presa por entre fios que me arrastam por lugares desconhecidos. Ser boca fechada, ser punhos cerrados, mas relaxados. 
Vaguear entre as sombras coloridas, e os barulhos silenciosos, e não entender o que me rodeia.
Ser inocente, e ver e não ver o mundo, e ver apenas a lua no alto, e as suas simples crateras, e o vazio. O simples vazio. 
Ser oca, sem chocalhos ou adereços.
Ser despida de voz, visão, sabor ou tacto.
Ser nua. Ser lua,

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Viagem

Acordo de novo sem o teu abraço de amanhã, e já parece uma eternidade desde o teu beijo ao acordar. Envolves-me nos sonhos coloridos, nesses teus braços apertados, que nunca me deixam cair, e fecho os olhos no decorrer da noite, ainda em claro, ouvindo a tua voz e tentando sentir as nossas pernas entrelaçadas antes de dormir.
Esqueço o temporal lá fora, quando a tua voz doce me desperta todos os sentidos, que te sentem só a ti, e deixo-me embalar nestas águas paradas enquanto espero o teu regresso.
Não foste longe, e eu cá te espero dessa viagem obrigatória, seguindo os teus passos, um a um, como quando percorro o teu corpo com beijos e te faço estremecer.
No amor temos que nos esmerar, ser pacientes, e pôr parte de nós naquilo que o outro faz.
Não há atalhos, e o trabalho é árduo, mas compensatório.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Insatisfação

Já sei que tenho que te deixar ir na tua, sem travões ou novas direcções. Sei que tens o caminho traçado, e não admites um pequeno desvio. Bem que tento acompanhar-te ao longo da estrada, nessa tua correria que sempre te deixa distante de mim. Tento seguir sorrindo sempre atrás,e por vezes deslizo e lá te peço para abrandares e seguires ao meu ritmo. Não me parece mais uma vez. E mais uma vez a tua paciência se esgota desse teu lado fervendo e espumando,e já estás farto de me dizer que o teu ritmo é o mais certo. Mas esse teu ritmo continua a não encaixar em mim sabes? Não te queria a fazê-lo como uma obrigação sequer, queria ver-te a fazê-lo para veres um sorriso verdadeiro quando conseguimos seguir lado a lado. Será que estou a pedir assim tanto de ti? Acho que não peço mais esforço que aquele que dou por nós.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Vamos tirar as teimas

Culpa minha, que num vislumbre de luz me apaixonei, e bela fiquei, sorrindo ao virar da esquina. Será que notaste os meus olhos brilhantes quando te olhei ao reflectir no rio? Será que reparaste como aproximei as minhas mãos de ti, para saber se tremias como eu, com a ligação que ali se criava entre nós dois? 
Não saberia dizer o que em ti me encantou naquela noite, nem nos outros tantos dias depois, e no que ainda hoje faz amolecer o meu coração e sorrir quando penso em ti, mas sei dizer que nada passou, que nada esmoreceu. O bater do meu coração brande mais alto que os ventos mais fortes que revoltam o mar, e ainda assim é mais suave que um marshmallow a derreter na tua boca. 
Quase te comparo ao sol, que me ilumina a face e me enche de felicidade, ou não ficaria eu tão bela quanto a lua quando sou o motivo do teu sorriso. 
Estou aqui, vê-me, fala-me, toca-me, vem comigo descobrir se somos reais ou se fazemos parte duma fantasia, num mundo distante deste nosso. Eu aposto que somos reais. Vamos tirar as teimas.