terça-feira, 8 de setembro de 2015

Empatia

Poderia sentar-me sozinha num banco de jardim, em dia solarengo, com os pássaros a chilrear. Ainda assim a minha mente voaria até ti, questionando se pensarias em mim, ou sonharias comigo essa noite. Poderia fechar os olhos e quase instantaneamente reviver os momentos que me fizeste sorrir, e escolher não pensar em nenhum momento que entristeceste o meu coração, fingir que nunca caíram lágrimas dos meus olhos por tua causa, e deixar confundir o calor do sol com essas memórias.
poderia fundir-me com o tempo, e fazer parte daquele lugar, mas sem que deixasses de fazer parte de mim. Dói a empatia em que te enlaço, e não consigo senão perdoar-te pelas dores que já me deste, e deixar-te continuar nesse caminho que escolheste fazer à minha frente. Eu estou aqui, esperando que regresses da aventura, como um menino explorador, para te limpar o pó do rosto.
Se te perdoo a ti, porque não perdoar-me a mim mesma? 

domingo, 6 de setembro de 2015

Último ano

Estou só apavorada. Com o reboliço que retoma a cidade, com as luzes que piscam ao descer da noite, e com as multidões que agora enchem estas ruas. 
Vejo chegar o que a minha ânsia há muito sonhava, e já não sonha.
Temo, pelo mundo que deixo e pela porta prestes a bater. Mantenho o pé direito levantado, para pisar com sorte no futuro, que ainda não chegou. É agora que deixo os jeans velhos e rasgados na gaveta do fundo da cómoda, junto das tshirts, e dos tops de verão. Procuro nas montras looks sóbrios e discretos, que façam as manequins parecerem seguras de si, embora sejam bonecas. Talvez venham a esconder bem os meus tremores. 
Voltava atrás no tempo, e já não volto. Já não estou empolgada com a onda de inocentes e curiosos jovens que vêm à aventura para a já minha cidade. Já não procuro conhece-los ou fazer parte da vida deles. Eles lembram-me dum tempo que já passou, e não se vai repetir, nunca mais. 
Queria deambular pelas ruas e repetir, como da primeira vez, e um segundo depois já não quero, por me pesar o coração.
Quero parar o tempo, e ficar nesta bolha de expectativa pelo que virá, sem o tempo dela chegar. Neste momento, é ensurdecedor o barulho que o mundo faz a girar, e de tirar o folgo esta rapidez com que o tempo passa. 
Sinto que tudo está a mudar, e é tão inquietante não saber o que vai acontecer. Haverá trabalho. Haverá provas daquilo que somos capazes. Haverá choros, haverá despedidas, haverá fins. Afinal, é o último.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Ironia

Parte. Enquanto parto na direcção oposta. Segue de costas voltadas, e faz-me esquecer como pronuncias o meu nome, e como aqueces a minha mão na tua.
Vai. E não sorrias mais no meu caminho, sorri no teu, longe do meu alcance, e deixa-me fazer o luto da tua presença. Deixa-me esquecer o carinho do teu abraço, e a chama que te arde no olhar. Deixa-me tropeçar nesse caminho, enquanto corro de volta a ti, mas não pares para me amparar. 
Só hoje, permite que te deixe para amanhã, e que repita todos os dias a mesma mentira, até ser verdade.
Vai, se é o que queres, mas não voltes a meio caminho. Também tenho o meu para percorrer, e vou me atrasar.