segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Febril

Encosto a minha face rosada à janela. Lá fora chove e o vento sopra por entre as árvores. Ele está bravo e empurra as gotas contra esta janela, querendo perfura-la.
Fecho os olhos e sinto o baque das gotas, e o uivo do ar. 
A minha febre não baixa. 
Não abro os olhos para não me permitir a alucinações
Os meus sonhos queriam provocar-me uma partida, quando te meteram bem a meu lado, a abraçar-me fortemente. Agarrei-me em ti em sonhos. Entrelacei os meus dedos nos teus, e deixaste-me encostar a cabeça no teu peito.
Estavas quente, tal como sempre me recordo de ti.
Era a febre. Esta febre que teima em não me abandonar. Ao contrário de ti, que teimas em não querer ficar.
Então encosto-me a esta janela gelada, e a luz da lua, em quarto minguante, empalidece-me. Este frio mantém-me acordada, e impede-me de me render a esta vontade de te procurar em outro lugar, bem longe da realidade...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Feito de plumas

Bum bum bum
Sinto fraquezas. Sinto quebras na pulsação.
Bum bum. ... Bum... Bum..................................Bum

O tempo transformou-se, está irregular, e eu flutuo. Torno-me parte dele. 
Quando caio, não estou a cair na verdade, estou a deixar o tempo segurar-me.
Não resisto e fecho os olhos. Deixo-me voar com ele.
O meu sangue pára de percorrer o meu corpo no sentido normal. Não há mais regras, ele pode parar, pode decidir qual a direcção que toma. O tempo dá-lhe essa liberdade. 

Bum....... Bum......... Bum................................................. Bum.......................
Há todo um novo ritmo, que me balança,
Um novo ritmo que me leva sem destino

Aqui não é preciso saber respirar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Prenúncio

A minha alma enverga o vermelho, e o meu coração o preto. 
Talvez não haja razão para toda esta intensidade. 
Mas este preto simboliza a dor. A dor de ter perdido algo que nunca cheguei a ter. A dor preenche, fulminante. Queria poder apaga-la, tal como queria evitar que o sangue escorresse da ferida aberta.  
Mas é difícil. O sangue não parece querer estancar e a dor não abranda. 
As luzes vão apagando na cidade, uma a uma, até ficar completamente escuro. Parece que todo o mundo foi embora. E deixaram-me. Deixaram-me com esta ferida, e encharcada em sangue. Deixaram-me para trás, porque ninguém me saberia curar, e a escuridão era já demasiada para se poderem aproximar. 
Ainda caminhei, deixando grandes poças de sangue atrás de mim e um cheiro nauseabundo. Mas apesar do prenúncio a morte, o meu coração continua a bater.

sábado, 20 de outubro de 2012

Queria ser correspondida, mais uma vez

Hoje sinto-me nostálgica e vou dirigir-me a ti que já saíste da minha vida:
Já lá vão uns meses, desde aquele dia em que te conheci. 
Hoje, como há outros (quase) tantos meses, mantenho o "adeus", ao teu intermitente "até um dia". 

Quando te conheci, pensei seres a pessoa certa. Primeiro, quis manter os pés assentes na terra.Não criei sonhos em relação a nós. Serias simplesmente um amigo. Um amigo muito parecido comigo, uma pessoa tão semelhante, como não me lembrava de antes ter encontrado. Era capaz de estar tempos e tempos a falar contigo. Depois, quebraste-me as barreiras com as tuas palavras. Não consegui resistir. Não quereria resistir mesmo que conseguisse.
Mas um dia tudo tende a acabar, e nós acabámos muito cedo. Ainda estava a começar a saborear o teu calor junto a mim, a habituar-me à tua "presença". Por breves momentos, quando me desiludiste e fugiste de mim dum momento para o outro, quando eu pensava que já nem eu ia fugir de nós, garanti que nunca te deveria ter conhecido. Foi por breves momentos. 
Agora, não digo estar apaixonada por ti. Não estou. Somos meros desconhecidos. Não trocamos palavras, apesar de eu já ter tentado uma aproximação. Queria a tua amizade, porque eu realmente gostava de ti. Talvez daqui a uns dias, talvez daqui a uma semana, talvez te volte a dizer "olá". Mas admito que foi bom conhecer-te. Foi bom saber a sensação de conhecer a pessoa quase perfeita para mim. Digo "quase" porque não eras a pessoa perfeita. Mas ainda hoje eu recordo aquilo porque passámos e sei que gostava de repetir. Não contigo, nem de igual forma. Mas gostava de voltar a sentir que a pessoa seria perfeita para mim. Que encaixávamos como duas peças únicas para completar um puzzle, e lhe dar sentido. Que eu queria tanto como a outra pessoa formar um "nós". Sim, acho que no fundo posso dizer que é disso que sinto falta. Sinto falta de partilhar interesses. Sinto falta de partilhar as visões. Sinto falta de ser correspondida. Posso quase dizer, que não é de ti que sinto falta, mas sim do que tivemos. Foi tudo muito rápido. Um amor condenado desde o inicio, que mesmo assim lutou durante uns tempos contra as adversidades. E quando desististe, eu quis culpar as circunstancias. Talvez seja por isso que parece tão perfeito. Nunca houve uma discussão. Nunca um desentendimento. Foi tudo demasiado repentino, e hoje tendo a só me lembrar do que de bom se passou entre nós. Talvez seja um erro, mas não sei vê-lo de outra forma.

Não és só tu que te apaixonaste por outra. Eu, que já antes tinha sentido algo de especial por alguém, depois de me deixares voltei a sentir por essa pessoa. Mas essa pessoa, essa pessoa não olha para mim da mesma forma. E sabes o quanto isso é crucial? Sabes o quanto é crucial para mim ser correspondida? Só quando me sinto correspondida abro o meu coração totalmente. É por isso que ainda hoje penso em ti, e naquilo que senti. Porque para ti abri o meu coração sem reservas. E apesar de me teres virado as costas, e de hoje não falarmos, ainda lembro quando reservavas sorrisos só para mim. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Estou a deixar-te ficar

Estás a perder o teu encanto. Mas espera. Não me tomes por mais uma dessas raparigas que não sabe o que quer, que não sabe o que sente, que tem os seus sentimentos a voar de pessoa para pessoa. Não me interpretes mal. Sei tudo aquilo que já te disse, e tudo aquilo que já senti na tua presença. Sei o quanto já me entristeci nos dias mais escuros, com saudades tuas, com ciumes dos teus sorrisos para outras pessoas, com o teu distanciamento em certos momentos. Sei o quanto custa a este pobre coração não ser alguém especial para ti. Mas há algo diferente. Toda essa tristeza permanece, mas há algo mais; neste momento apercebo-me realmente das nossas diferenças enormes. Diferenças que não tinhas antes e que tens hoje. Diferenças que estão a crescer, que nos separam a passos largos. Não entendo em que momento ficámos tão diferentes, mas sei que a noite passada, ao ver-te, talvez  sendo até o que sempre foste, já não consegui ver a mesma pessoa. Já não consegui achar piada às tuas expressões, não conseguir rir como elas riam. Hoje sinto que deixaste de crescer. Que nalgum momento ficaste parado e não mais desenvolveste. Sinto que te ultrapassei, neste caminho que um dia seguimos tão próximos. Hoje sinto que ficaste pelo caminho, e que apesar de eu te tentar puxar comigo para continuarmos juntos, tu te foste deixando ficar.  E um dia deixei de te ver atrás de mim, e permaneceu uma memória durante um tempo. Uma memória do que foi seguires a meu lado. E hoje, hoje segues bem atrás de mim, e apesar de por vezes eu esperar e pensar que já voltaste a caminhar a meu lado, voltas a deixar-te ficar para trás. 

São essas outras pessoas, são essas que te fazem ficar aí, que te fazem abrandar o passo. Mas eu não abrando, eu não me deixo ficar. Eu gosto de avançar, gosto de perseguir o trecho seguinte de estrada, e descobrir o que se segue, o mais rápido possível, e mesmo assim aproveitar bem aquilo com que me deparo.
Percebo hoje, que sou bastante flexível, mas tu não. Afinal, talvez o problema não seja meu. Simplesmente não dá.
Estou a deixar-te ficar, e a seguir sem olhar para trás.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Só Amizade, digo

Estou a fazer uma colecção.
Colecciono os pedaços de palavras que oiço saírem desses lábios mesmo que não ligue aos seus significados. Gosto do som da tua voz. Gosto como vibra tão direito aos meus ouvidos, e num sopro me aquece por dentro. Gosto de ver esses teus lábios esticarem-se para um sorriso, que é capaz de dar cor aos dias mais cinzentos. Gosto como esse teu sorriso chega aos teus olhos, e aí colecciono o brilho que eles contêm, estrelinhas que apanho, um bocadinho de cada vez, com medo que mesmo inesgotáveis elas se esgotem.
Colecciono os teus toques supérfluos,  quando vens e te encostas a mim sem razão. Colecciono os momentos em que me apoias, os momentos em que me abraças e me proteges por segundos do mundo lá fora, os momentos em que fazes dum simples toque no braço uma alavanca para o sol mostrar um sorriso, um fogo se acender no meu peito, e o dia ficar simplesmente melhor.
Colecciono-te. Porque preciso de ti.
Isto é só amizade, certo? 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tantas coisas que gosto em "nós"

Pode parecer estranho, mas se pudesse escolher não serias o meu par ideal.
É estranha a maneira como me sinto em relação a ti.
Sinto-me bem na tua presença, melhor do que na presença de muitas outras pessoas. Gosto de te dar um abraço, gosto de encostar a minha cabeça no teu ombro, gosto quando me revelas coisas tuas, e quando o estás a revelar só a mim. Gosto quando me procuras para te fazer companhia. Gosto quando ralhas comigo quando vou embora e te "abandono". Gosto quando ficas chateado quando finjo não me importar contigo. Gosto quando mandas mensagens quando não estou contigo. E gosto ainda mais quando brincas comigo, mesmo sabendo que tudo não se tratará apenas e sempre duma brincadeira.
Contudo, sei que isto nunca resultaria. Acho que somos muito diferentes, apesar de não saber nomear essas diferenças.
Seremos amigos. E vou aprender a contentar-me com isso.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Diferenças


O teclado é um conjunto de letras desfocado. Escrevo a pensar em ti, e é a ti que vejo à minha frente.
Inevitavelmente a lembrança do teu sorriso faz as minhas lágrimas soltarem-se, pois sei que nunca vais sorrir só para mim.
É estranho a mistura de sentimentos que me provocas, e mete-me raiva saber como todas as nossas diferenças para ti nos afastam, e para mim são meros pormenores insignificantes. Estas diferenças para mim, estes defeitos que eu tenho, para mim torna tudo mais real.
Mas e tu não tens defeitos? Serás tão perfeito assim? Mas isso não faz de ti irreal? Mas não podes ser irreal, eu sinto o teu calor, o teu toque, quando te encostas a mim, mesmo que fugazmente.
Gostava de saber o que pensas de mim. Gostava de saber o que vai na tua cabeça que nos separa, que nos coloca em mundos separados. Não será possível construir uma ponte que nos ligue um ao outro?