quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Saudades do teu abraço. Saudades de como éramos um do outro. De como o mundo era simples.
Antes. Era tua. E eras meu. Não havia ninguém que nos separasse.
Até ao dia. E então. Bati pé. Não me vergo a ninguém. E foste. E chorei.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Não quer dormir.

Oiço cada passo que se aproxima. Oiço o toque ao de leve na parede, a respiração baixa e controlada, o corpo que se mexe e avança. Vejo cada movimento, cada feixe de luz, cada sombra. Sinto cada toque. Sinto até o pulsar da terra debaixo de mim, ao meu redor. Sinto a energia que me envolve. E que me faz tremer o corpo. Que me faz pulsar o coração acelerado. Oiço, vejo, sinto, o que há e o que não há.
A minha mente corrompe-me, entorpece-me, não me deixa descansar. E quando chega a escuridão, está alerta. E não dorme. Não quer dormir. Porque na escuridão há o desconhecido. E o desconhecido pode ser assustador.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Caixa de pandora

Tenho um monstro debaixo da cama. É negro como o canto mais escuro do beco sujo, e tem os olhos cheios de maldade. Ele puxa a raiva de mim, e lembra-me como às vezes o nosso instinto é matar, causar dano, causar tantas feridas como aquelas que não saram em nós. Recorda-me dos dias mais sombrios, em que parece haver uma luta pela sobrevivência. Quem sobrevive a esta luta, que surge sem avisar?
Retiro-me. Para aquele mesmo local de há anos, embora fisicamente mais rico em sorrisos. Deixo anoitecer e não temo a escuridão, que está já dentro de mim. Abriu-se uma vez mais a caixa de pandora.
E espero sentir frio, dor, até que as lágrimas nasçam em mim, e eu me puna por não poder fazer nada que vire o jogo. Quero alimentar esta raiva e partir o mundo em pedaços.
E depois surge um vento, que encobre por momentos esta dor. Até à próxima.

domingo, 12 de junho de 2016




Quero esplanadas em dias de sol, uma mesa cheia de risos, conversas leves, olhos sorridentes, corpo descontraído. Quero gelados em dias de calor, comer sem medo de ganhar aquele pneu na barriga, e combater o calor nalgum banco de jardim à sombra. Quero jantares à luz de velas, e mini surpresas em dias vulgares. Quero passeios junto ao rio e longas caminhadas junto ao mar, partilhar silêncios e ouvir o som do mundo a girar.  Quero conversas longas e cheias de significado pelo meio da noite, sob a luz da lua e das estrelas. Quero abraços espontâneos e repentinos, e as cócegas que eu adoro, e me cansam de rir. Quero sentir o cansaço que a felicidade nos deixa no corpo. Sentir-me exausta de sorrir. Quero sentir a paz entre braços, que encontrei a minha morada.

quero nascer para te encontrar de novo, amor.

sábado, 14 de maio de 2016

Saudade

Aqui estou eu, acordada na madrugada sem festa. Na escuridão que ficou depois de uma semana de folia.
Inevitável o choro que me assolou por entre trinar de cordas, por entre a melodia do bater dos sapatos nas calçadas, e da chuva lavando o rosto. Para recordar aqueles fortes abraços a pessoas que foram tudo, a pessoas que nos fizeram rir, e até a alguns desconhecidos que passavam e desejavam sorte.  Por entre toda aquela festa, foi Saudade que Coimbra gritou mesmo antes de eu partir.
Sinto que é cedo para deixar esta vida de estudante que tanto gosto me deu viver. Desde as festas até de manhã, até às noitadas de estudo com a melhor amiga.
Coimbra deu-me pessoas. Pessoas que me ensinaram sempre alguma coisa. Que me fizeram aprender. E por mais memórias e aprendizagens, é sempre pouco o tempo que estive com elas.
Ainda não chegou o momento de partir e o meu coração apertado já teme o futuro. Questiona-se se as amizades serão apenas de distância até que um dia se perdem, e sente já a falta destas pessoas que preencheram uma vida. Questiona-se sobre a entrada no mercado de trabalho, sobre a necessidade de ter um emprego, de trabalhar, e surge a questão "será que serei capaz".  Questiona-se sobre os novos desafios de que nada sabe, é só quer ficar mais um pouco nesta casa, neste lar, com esta família.
Sente que nunca será tão feliz como aqui.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Às desilusões. Aos dias demasiado comprimidos. Aos dias cinzentos e frios. Às tristezas. Às dores. À vida.
Mondego, que corres para a foz. Tocaria as tuas águas ou não tivesse receio de me inclinar demais e cair. Mas olho-te, e imagino-me a flutuar, devagar, para longe desta cidade. Para longe do mundo. Para longe de pessoas. Longe do mal.
E redes, que às vezes imagino transpor, separam-me de ti. 
E os abraços esquecem nas memórias das finas laminas que cortam a pele. 
E nada importa quando os olhos se fecham.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Caminhos

Corro anos em pensamentos. Deixo-me levar em memórias, que parecem tão distantes. Hoje pareço mais leve. Os dias têm passado à velocidade da luz, e estou agora no fim de um caminho que percorri com muitos altos e baixos. Voltava a percorrer todos esses caminhos. Uma e outra vez. Pararia o tempo e tentaria ficar onde fica a felicidade. Não sei que momento escolheria para fazer a pausa porque são imensos por onde escolher. 
Houve pessoas que apareceram na minha vida, marcaram-na e seguiram caminhos diferentes. Houve aqueles que sempre ficaram por perto. Aqueles que mesmo longe nunca estão longe. Os que mesmo querendo ficar longe cruzam o caminho de vez em quando. Os que nunca se vão embora, em tempo nenhum. Os que significaram tudo e hoje não significam nada. Os que significaram nada e hoje significam tudo. Os que sempre significaram tudo e hoje significam mais um pouco. 

Queria poder ficar.


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Amanhecer

Amarro-me a folha de papel machucada. Linhas tortas, letras esborratadas. Como a maquilhagem que pus ao anoitecer, na luz do sol já fusco. 
Páro. No meio da rua, e oiço o mundo girar. Sinto a cor do céu vibrar em mim, enquanto já amanhece. Arrepio-me na tua lembrança. 
Cravo as unhas na pele, que se desfaz ao toque, como pó. Tento agarrar-me, mas fujo como borboletas.
Rodo o disco no meu ouvido, e escolho a minha própria música. Para dançar para ti, mesmo que não me vejas. Nunca viste. E eu continuo a dançar na ponta do parapeito, sonhando voar. 
Fechos os olhos aos primeiros raios de sol, e banho-me no calor do momento. Cheiro o orvalho familiar, duma mente contadora de histórias. 
Canto no ritmo errado, porque não sou fã de conformismo. Não me importo se aches que estou a errar a letra, ou que piso o teu chão sem autorização. 
Gostar do teu sorriso não te dá o direito de pegares quando quiseres e não me deixares partir na minha aventura. Nem te dá o direito de jogares com o mundo, como se só importasse ganhares. 
Aprendi que és destrutivo. Nem sempre aquilo que queremos é aquilo que precisamos. 
Sorrio na tua lembrança. Com um espinho cravado no peito. Chuto a folha de papel machucada para o vento. Limpo a face da noite que passou.
Está na hora de ser real. Genuína. 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Pousei o coração na mesinha de cabeceira. Despenteei o cabelo, pintei os lábios e saí.
Embriaguei-me com o ar da noite, e com a música que obrigava os meus pés a dançar.
Deixei a raiva fluir, como um rio, de caminho ao lado de fora, ao exterior de mim. Menos quilos num peso aos ombros, e quase voei sem asas.
E a sabedoria conquista-se. Com anos ou experiências. E o que antes se jogava em poço fundo, joga agora direito às mãos. Pega e faz o que quiseres.
Não remo contra a maré. E sinto tranquilidade no sitio do coração.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Março

"Olá como te chamas?"
Responde-me com os lábios junto aos meus. Sussurra-me ao ouvido. Diz-me enquanto me mordes o pescoço. E deixa para lá o resto do mundo. Vamo-nos conhecer.
Que há de mal em conhecer o corpo um do outro e esquecer a alma só por um segundo?

segunda-feira, 28 de março de 2016

Parabéns.

Se me esforçar, ainda sinto o teu cabelo entre os meus dedos, a tua barba a arranhar a minha cara, e os teus dedos grossos a fazer-me cócegas. Sem me esforçar até, mas esforçando-me para esquecer todo o mal que me fizeste. 
Às vezes, como hoje, queria esquecer todas as dores, todo o sofrimento, as lágrimas que não consegui conter na tua ausência. Queria voltar ao conforto dos teus braços, à rotina do que chamávamos de amor, e ficar. Ficar eterna, na felicidade da mentira que era mais bonita que a realidade. 
Às vezes, queria fingir que te amo, que foste bom para mim, que eu não soube interpretar os sinais, e que fugiste por orgulho de quem se sentiu rejeitado. Às vezes, queria eu fugir da dor de quem foi esquecido. Abandonada, fiquei só, num pensamento tão concreto e absoluto. Sem ti, fiquei feita nada. Não por não ser ninguém, mas por achar que faltava sempre algo, que seria este o meu destino irremediável. 
Lamento recordar-te com toda esta mágoa, como se o tempo fosse feito de areias movediças, onde a dor não se filtra. Fica ao de cima, a arranhar a pele enquanto me enterro. Queria lembrar as tuas danças na cozinha, os teus ataques de cócegas, os teus abraços, os nossos momentos demasiado melosos para contar a alguém, sem a sombra da tua voz áspera e do teu olhar duro. Sem a sombra do teu desprezo.
Espero que com os anos a sabedoria te preencha, e não deites para o lixo mais um coração que só te quis bem. 

terça-feira, 15 de março de 2016

E cá estou... procurando um sorriso, um aceno, um encorajamento. Que fiz bem. Que tenho a escolha correta. Que sou certa. Que sou bonita. Que sou inteligente. Que sou saudável. Que sou simpática. Que sou boa amiga. Que sou amável. Que sou compassiva. Que sou justa. Que sou a preferida. Que sou pessoa quase perfeita.

E aí erro. E não sou nada. E estou só.






Só. 






Abandonada. 






Num silêncio com vozes.






Com medo.






Do Para Sempre.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Vai

Chegaste. Afastado. Como sempre. 
Hábito, rotina, hoje já não nos dirigimos um ao outro. Não sei em que momento nos perdemos, ou se alguma vez nos tínhamos encontrado. Fingi uma indiferença que não sinto, na esperança de ela nascer em mim, e eu não procurar mais a tua presença ou a tua aproximação. 
Cansei de dormir só, gelada, numa cama demasiado grande para um só corpo. Na noite fria, que me atacava já a garganta, decidi deixa-te ir. Procurei outro corpo, quente, que me fervesse o sangue. Que me tocasse. Procurei outros beijos, que loucos me enlouquecessem. Procurei outros braços onde me aninhar para dormir, por esta noite, que já longa vai. 

Ficaste adormecido na memória, enquanto eu continuava acordada.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Se eu pudesse...

Pudesse eu.
Pudesse eu pôr um ponto final nas noites mal dormidas. Nos sonhos que me atacam entre viagens de autocarro. No silêncio que me acorda na noite escura. Nos sons que me sobressaltam e me incomodam. No adiar da noite, e no adiar do dia,
Pudesse eu sentir o aconchego do cobertor e ficar em paz. Enrolar-me sozinha nos lençóis lavados, fechar os olhos e dormir. Dormir sem sonhos, e despertar enérgica. Passar o dia acordada.
Pudesse eu dizer que estou segura. Que o mundo é feito de coisas boas. Que ninguém existe que me faça mal. Que não há monstros na escuridão, que não há sombras esquisitas que me perseguem.
Pudesse eu dizer adeus ao passado e nascer de novo, noutro sitio. Quem sabe não existiriam tantos medos.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Fugir

Fugia contigo, se me quisesses. Se esse teu sorriso fosse por me ver. Se sonhasses comigo, quando me apareces em sonhos sem te pedir.
Fugia contigo, de olhos fechados, desde que me segurasses pela mão. Mesmo que o caminho fosse traiçoeiro, confiava na tua orientação.
Fugia contigo, do resto do mundo.
Fugia até de mim para ficar em ti.

Em vez disso tento só fugir de ti.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Deslocada

Olho desfocado. Sinto me ausente deste mundo, deslocada.
Procuro pertença, mas encerro em mim o pecado de viver. Queria que fosse simples, o pisar de um chão que não cola no meu pé. Cola-me as folhas velhas e escorregadias, dum outono que foi também inverno, duma chuva que volta e entope as canalizações, contamina a água potável.
Oiço o som do demónio ao longe a troçar, que de mim nem é, porque a agenda dele não me contempla.
Encerro em mim uma loucura que me persegue, que me queima em lume brando, que me ensurdece os sentidos. Fujo de mim, correndo da sombra que não foge do meu toque. Às vezes queria apagar-me, só para descansar.