segunda-feira, 28 de março de 2016

Parabéns.

Se me esforçar, ainda sinto o teu cabelo entre os meus dedos, a tua barba a arranhar a minha cara, e os teus dedos grossos a fazer-me cócegas. Sem me esforçar até, mas esforçando-me para esquecer todo o mal que me fizeste. 
Às vezes, como hoje, queria esquecer todas as dores, todo o sofrimento, as lágrimas que não consegui conter na tua ausência. Queria voltar ao conforto dos teus braços, à rotina do que chamávamos de amor, e ficar. Ficar eterna, na felicidade da mentira que era mais bonita que a realidade. 
Às vezes, queria fingir que te amo, que foste bom para mim, que eu não soube interpretar os sinais, e que fugiste por orgulho de quem se sentiu rejeitado. Às vezes, queria eu fugir da dor de quem foi esquecido. Abandonada, fiquei só, num pensamento tão concreto e absoluto. Sem ti, fiquei feita nada. Não por não ser ninguém, mas por achar que faltava sempre algo, que seria este o meu destino irremediável. 
Lamento recordar-te com toda esta mágoa, como se o tempo fosse feito de areias movediças, onde a dor não se filtra. Fica ao de cima, a arranhar a pele enquanto me enterro. Queria lembrar as tuas danças na cozinha, os teus ataques de cócegas, os teus abraços, os nossos momentos demasiado melosos para contar a alguém, sem a sombra da tua voz áspera e do teu olhar duro. Sem a sombra do teu desprezo.
Espero que com os anos a sabedoria te preencha, e não deites para o lixo mais um coração que só te quis bem. 

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