Como seria o mundo em que eu não existisse?
Quem ocuparia esta casa? Estaria ela vazia?Onde estariam as pessoas que conheço? Como seria a vida delas afectada pela minha ausência? Que caminhos seguiriam? Seriam mais felizes? Certamente algumas teriam essa hipótese, que não tiveram.
Seria este um mundo melhor sem mim? Será que decidiu o destino rir-se permitindo a minha existência?
Viver
Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?
E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?
Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?
O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?
Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?
Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'
Sem comentários:
Enviar um comentário