Era uma pobre rapariga. Ela dava passos pesados, carregando todo o seu peso, mais o peso das suas vozes e de um mundo desconhecido. Arrastava-se na rua, as pessoas passavam por ela leves e não pareciam reparar. Também ela não reparava nessas pessoas, pois os seus olhos não deixavam o chão. Quando começava a chover, automaticamente levava as costas da mão ao seu rosto, sem saber se eram lágrimas que ela via cair entre os seus passos. Na verdade, ela não se importava muito. Puxava um lenço do bolso caso fungasse e resolvia o problema. Ao chegar a casa fechava a porta devagar sem fazer um único ruído. Seguia silenciosa para o quarto na companhia das suas vozes, que tinham recomeçado o diálogo, por vezes monólogo. Ela pensava em respostas, mas nunca as proferia. Começava por fechar portas na sua mente, tapava os ouvidos com as mãos, mas as vozes não paravam. Chegavam sempre a ela. Ela então ligava a aparelhagem no máximo, na esperança de silenciar as vozes, de as abafar pelo menos. Mas elas falavam sempre mais alto.
E dentro dela, sem saber, nascia algo, que nunca seria possível perceber se uma profunda tristeza, se um profundo ódio. Fosse qual fosse, ela nunca recuperaria.
Sem comentários:
Enviar um comentário