Gosto de me sentar na beira da tua cama e apenas olhar. Olhar-te, enquanto te moves pelo quarto, procurando ou fazendo alguma coisa. Mas hoje sento-me na beira da minha, e não te vejo. Está escuro, mas também não te sinto nem posso procurar a tua mão debaixo dos lençóis. Sei que chamar o teu nome é uma acção em vão, não responderás, não te chegarás a mim e me aconchegarás nos teus braços até o frio ir embora, nem acenderás uma vela para termos luz suficiente para nos olharmos enquanto encostamos os nossos corpos e as nossas caras sob um tecto sem estrelas, mas debruçados sobre um campo de emoção, e cobertos por um amor do qual sabemos tão pouco ainda e sem fim conhecido.
Hoje não haverá risos "gozões" da tua parte, nem risos histéricos da minha, a quebrar o silêncio, que já me preenche por dentro. Não haverá festas na cara ou beijos no braço, ou festas no braço ou beijos na cara, quando a ausência de toque entre nós se torna a mim insuportável. Não caminharei descalça no chão frio por mais uma vez não saberes onde param os chinelos que usámos minutos atrás, nem te lavarei a louça porque a tua preguiça é rei do sítio distante de onde vens.E não sorrirás para mim, não sorrirás e não me levantarás no ar, nem pegarás na minha mão para dançarmos sem outra música que não a do teu coração.
Porque hoje foi dia de voltar a casa.
Já tive a oportunidade de te sonhar desde que te deixei esta tarde, ou desde que me deixaste esta tarde, é confuso quem deixa quem, como foram os meus sonhos, mais confusos que quaisquer outros, abstractos e sobrepostos, numa realidade um pouco ou tanto alternativa. Parti frustrada. Não tive tempo de te abraçar e de te beijar como desejava. Foi uma correria o dia de hoje, e reprimindo as lágrimas, que mais que uma vez, e por razões já esquecidas, se quiseram libertar esta semana, coloquei o sorriso mais bonito que consegui e te disse adeus por mais uns dias, um "até já" que dói, porque não enchi todo o meu ser da tua energia, da tua presença, da tua alegria contagiante, do teu sorriso e do teu abraço. Hoje parti menos eu, e assim que virei as costas senti esvaziar-me, senti a vida a fluir para o exterior, o ar tornou-se rarefeito, e quase perdi o fôlego e o equilíbrio enquanto caminhava na direcção contrária à tua. Já me desembaracei de algumas lágrimas entre o calor esquisito dos cobertores e a música arrepiante.
Assusta-me esta intensidade com que te sinto, o quanto me completas. Se um dia tiver que te dar um adeus eterno, poderei perder-me, num espaço desconhecido, num local assustador, num local sem saída. Temo sem ti nunca mais voltar a ser a mesma. Se um dia partires, levarás de mim a melhor parte.
Pink Floyd - Wish You Were Here
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