Estou só apavorada. Com o reboliço que retoma a cidade, com as luzes que piscam ao descer da noite, e com as multidões que agora enchem estas ruas.
Vejo chegar o que a minha ânsia há muito sonhava, e já não sonha.
Temo, pelo mundo que deixo e pela porta prestes a bater. Mantenho o pé direito levantado, para pisar com sorte no futuro, que ainda não chegou. É agora que deixo os jeans velhos e rasgados na gaveta do fundo da cómoda, junto das tshirts, e dos tops de verão. Procuro nas montras looks sóbrios e discretos, que façam as manequins parecerem seguras de si, embora sejam bonecas. Talvez venham a esconder bem os meus tremores.
Voltava atrás no tempo, e já não volto. Já não estou empolgada com a onda de inocentes e curiosos jovens que vêm à aventura para a já minha cidade. Já não procuro conhece-los ou fazer parte da vida deles. Eles lembram-me dum tempo que já passou, e não se vai repetir, nunca mais.
Queria deambular pelas ruas e repetir, como da primeira vez, e um segundo depois já não quero, por me pesar o coração.
Quero parar o tempo, e ficar nesta bolha de expectativa pelo que virá, sem o tempo dela chegar. Neste momento, é ensurdecedor o barulho que o mundo faz a girar, e de tirar o folgo esta rapidez com que o tempo passa.
Sinto que tudo está a mudar, e é tão inquietante não saber o que vai acontecer. Haverá trabalho. Haverá provas daquilo que somos capazes. Haverá choros, haverá despedidas, haverá fins. Afinal, é o último.
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