sábado, 24 de outubro de 2015

Outono

Por vezes deparo-me com a duvida. Se fui eu que desisti. Se fui eu que errei quando quis mais. Se fui eu que causei a dor, para depois fugir dela, e de ti. 
Por vezes sinto-me culpada, por no reboliço do quotidiano não ter tempo para pensar em ti e me permitir ser feliz. E outras vezes critico-me por me deixar sentir um pouco de saudades tuas, porque sei que vai doer mais.
Estou nesta ponte, entre o verão e o inverno, com dias de sol e dias de chuva. Não quero esquecer-te pela importância que tiveste na minha vida. Não quero lembrar-te pela dor que vem de mão dada contigo.
Não quis deixar-te mal, nem abandonar-te para veres cair as folhas sozinho. Dói-me como decidi partir, quando queria tanto que me pedisses para ficar. Mas não quiseste olhar para trás, e sinto que tomei por ti a decisão que talvez nem estivesses bem certo de querer. Não sei, porque comunicação não foi o teu forte. 
O tango dança-se a dois. E tu já não querias dançar. O outono chegou. e o vento será melhor dançarino que tu.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Dor

Dói ainda, por demais, este "eu sem ti", quando ainda em sonhos me surges, me maltratas e me deixas só e lavada em lágrimas. Dói, como ontem, e o fizeste e te foste, e em repeat me massacras agora em sonhos. Não dói por te querer deste jeito, mas por te querer do jeito meigo a que um dia me habituaste, e por tu não quereres mais. Dói pela culpa que o teu olhar me incute quando a tua imagem passeia pelos cantos das minhas memórias. Dói pelas palavras ásperas, e pelos silêncios cortantes que me lançaste como armas de defesa, quando eu nunca te ataquei. Dói por saber que seguirás a tua vida sem o peso que carrego no peito, e me arrasto pelo chão. Dói saber que no fim, fiz isto mais por ti que por mim, e ainda hoje me questiono como estarás e se a tua vida está a seguir o caminho que pretendias. Dói saber que nenhum de nós estava feliz, mas que só eu tentei dar-te a felicidade. Dói saber que não cheguei. Que não fui suficiente. Dói saber que me fui anulando, que joguei fora expectativas e necessidades para dar lugar às tuas, e que por isso hoje tenho um caminho mais longo a percorrer para voltar a mim. Dói saber que doeu por longo tempo, mas me mantive na dor com esperança que desse lugar de novo à felicidade. 
Hoje, sorrio na esperança que a felicidade volte, e engano a dor por uns momentos esquecendo que a parte que de mim partiu para dar espaço a ti, está agora vazia. 
Engano o mundo com o meu sorriso, mas as estrelas sabem a mágoa que te carrego e o amor que ainda tinha para te dar.

sábado, 3 de outubro de 2015

Partir

Queria voltar para o teu abraço, pegar de novo na tua mão e morar no teu peito. Queria que voltasses a dançar comigo na cozinha, e me abraçasses de surpresa, e mais um beijo fogoso ao cair da noite e ao raiar da manhã. Mas apagaste a chama e eu não a consegui acender de novo com as minhas acendalhas velhas. Dizem que amar é também deixar partir. Então porque é que dói tanto?