Amarro-me a folha de papel machucada. Linhas tortas, letras esborratadas. Como a maquilhagem que pus ao anoitecer, na luz do sol já fusco.
Páro. No meio da rua, e oiço o mundo girar. Sinto a cor do céu vibrar em mim, enquanto já amanhece. Arrepio-me na tua lembrança.
Cravo as unhas na pele, que se desfaz ao toque, como pó. Tento agarrar-me, mas fujo como borboletas.
Rodo o disco no meu ouvido, e escolho a minha própria música. Para dançar para ti, mesmo que não me vejas. Nunca viste. E eu continuo a dançar na ponta do parapeito, sonhando voar.
Fechos os olhos aos primeiros raios de sol, e banho-me no calor do momento. Cheiro o orvalho familiar, duma mente contadora de histórias.
Canto no ritmo errado, porque não sou fã de conformismo. Não me importo se aches que estou a errar a letra, ou que piso o teu chão sem autorização.
Gostar do teu sorriso não te dá o direito de pegares quando quiseres e não me deixares partir na minha aventura. Nem te dá o direito de jogares com o mundo, como se só importasse ganhares.
Aprendi que és destrutivo. Nem sempre aquilo que queremos é aquilo que precisamos.
Sorrio na tua lembrança. Com um espinho cravado no peito. Chuto a folha de papel machucada para o vento. Limpo a face da noite que passou.
Está na hora de ser real. Genuína.
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