segunda-feira, 11 de abril de 2016

Amanhecer

Amarro-me a folha de papel machucada. Linhas tortas, letras esborratadas. Como a maquilhagem que pus ao anoitecer, na luz do sol já fusco. 
Páro. No meio da rua, e oiço o mundo girar. Sinto a cor do céu vibrar em mim, enquanto já amanhece. Arrepio-me na tua lembrança. 
Cravo as unhas na pele, que se desfaz ao toque, como pó. Tento agarrar-me, mas fujo como borboletas.
Rodo o disco no meu ouvido, e escolho a minha própria música. Para dançar para ti, mesmo que não me vejas. Nunca viste. E eu continuo a dançar na ponta do parapeito, sonhando voar. 
Fechos os olhos aos primeiros raios de sol, e banho-me no calor do momento. Cheiro o orvalho familiar, duma mente contadora de histórias. 
Canto no ritmo errado, porque não sou fã de conformismo. Não me importo se aches que estou a errar a letra, ou que piso o teu chão sem autorização. 
Gostar do teu sorriso não te dá o direito de pegares quando quiseres e não me deixares partir na minha aventura. Nem te dá o direito de jogares com o mundo, como se só importasse ganhares. 
Aprendi que és destrutivo. Nem sempre aquilo que queremos é aquilo que precisamos. 
Sorrio na tua lembrança. Com um espinho cravado no peito. Chuto a folha de papel machucada para o vento. Limpo a face da noite que passou.
Está na hora de ser real. Genuína. 

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