Acho que desisti um pouco. Do doce e do amargo. Do plano e do dia de amanhã.
Acho que desisti de um futuro incerto e esperançoso, e deixei-o pra lá, no sitio dele.
Desisti de ti. Desisti de mim.
Cheguei ao ponto em que o cansaço massacra. Em que o sono não repara, e está cheio de pesadelos. Cheguei ao ponto em que dói pensar, dói estar, dói ser.
Quero desabar. Já nem sei quem sou. Quem o passado me fez ser. De quem não consigo fugir. Como se foge da nossa alma estilhaçada? Como se cura a solidão? Mesmo entre tantos outros seres e se está só.
E sou escuridão. Mesmo quando rio. Quando beijo. Quando me afundo em alguém. Sou só, na escuridão.
E apetece-me arrancar a pele, e deixar a minha carcaça a descoberto, ver de perto quem sou debaixo das camadas. Mas eu não me sei ver sem o filtro da escuridão nos meus olhos.
Em que ponto me voltei a perder? Como fui capaz de me deixar? Serei para sempre atormentada pela minha sombra?